Junho 24, 2007 | Por: Bruno Nogueira | Na Seção: Discos
A voz de Vanessa da Mata esconde um tipo de segredo, cada vez mais raro na produção brasileira de música. É boa de ouvir, a ponto de que já na primeira impressão tudo parece muito certo, agradável e até o exagero do inquestionável. Efeito que dobra de proporção se visualizarmos um agudo tão afinado vindo de uma mulher de estatura tão alta. Diferentes noções de intimidação que ela usa a seu favor para se firmar como uma das artistas mais equilibradas do repertório nacional em Sim, terceiro disco que lança na carreira da nova balzaquiana.
Diferente dessa população média de artistas, Vanessa da Mata tem ainda a vantagem de que bom gosto costuma intimidar muito. E apesar de ser compositora, dona das próprias mensagens, Sim é um óbvio disco de muitas mãos. As dela, as do produtor e de toda estrutura que uma gravadora internacional como a Sony/BMG pode oferecer. Como em Boa Sorte / Good Luck, música que Ben Harper recebeu pelo correio para gravar junto a ela. Sob muitos aspectos, esse poderia ser o tipo de disco que muitos gostariam de ter a segurança em lançar.
Vanessa está diferente nesse disco. Mais refinada, sua maior contribuição nesse trabalho coletivo é dar um tempo no clima agitado que suas músicas traziam (vale lembrar a Ai ai ai), para mostrar um lado menos espalhafatoso. Resultado de referências que ela passou a receber, em última instância, do reggae e bolero. A seqüência de abertura – todos com jeitão de hits – com Vermelho, Fugiu com a Novela e Baú já apresentam esses novos sons que ela apresenta em sua própria versão processada.
Os outros personagens de Sim são visíveis apenas ao ouvido atento e os curiosos com o encarte do disco. Ela estava acompanhada no estúdio de um dos times mais requisitados da atual música brasileira. O produtor Kassin, o baterista da Nação Zumbi Pupilo, o guitarrista do Cidadão Instigado e já antigo companheiro Fernando Catatau. É muito evidente a influência desse último nos novos arranjos tipo “brega cool”, que algumas músicas como Ilegais traz.
Mesmo sendo um bom disco, Sim não deve trazer muitas mudanças para a carreira de Vanessa da Mata. Pode ser visto como um trabalho de manutenção da própria imagem, agora que ela já se estabeleceu no patamar dos grandes artistas. Um recado cuidadoso – com direito a uma música de protesto ecológico – de que ela não está interessada (ainda) em desandar pelo pop noveleiro, acústico e outros formatos que dão sempre um empurrão perigoso em qualquer carreira. Opção muito mais honesta da parte dela, que só merece mais louvor.