Dizem que as idéias geniais são sempre as mais simples. Sentado em um banco de plástico no Espaço Usina, em Casa Forte, com chapéu verde e olhar concentrado, Felipe Caburé, 40 anos, percussionista, entrega que ainda não caiu a ficha do que ele acaba de inventar. “Alguns amigos estão dizendo que eu revolucionei a maneira de tocar pandeiro”, comenta. Mas, no mesmo fôlego, completa: “Eu acho que não”. Na mão, o pandeiro que ele segura tem um estranho suporte de ferro, parecido com um puxador de gaveta. É o massa.
Basta colocar o pandeiro na mão usando o massa que se entende a função dele. O objeto muda o centro de equilíbrio do instrumento, repousando a mão do instrumentista. É uma sensação bem próxima a passar a vida subindo de escada e, de repente, encontrar um elevador. O suporte foi ergonomicamente pensado para facilitar o aprendizado e, mais importante, dar fim à tendinite que acompanha a mão de nove entre cada dez pandeiristas.
“Nasceu de uma vontade de tentar vencer a dor”, recorda Caburé. “Quando comecei a aprender a tocar, cai na ilusão que a dor me traria um ganho”. O calo que já ocupava metade do dedão dele, no entanto, discordava da idéia. Foi quando decidiu colocar em prática o que aprendeu sobre cinesiologia no curso de Educação Física. O nome complicado é a ciência que estuda os movimentos do corpo. De onde são criados novos tênis e roupas para atletas.
Quando mostrou a idéia para os amigos, a reação foi única. “Poxa, é massa!”. O adjetivo se repetiu tanto que acabou virando o nome do suporte. Desse primeiro susto pra cá, o massa já teve cinco versões. “Levei para um ortopedista e depois para um engenheiro para eles sugerirem modificações”, explica Caburé. “O engraçado é que todos ficaram espantados quando tiveram o primeiro contato com ele. O engenheiro quase enlouquece”, fala com bom humor.
Nesse segundo momento, de divulgação, o marketing fica na mão do criador. Onde vai, Felipe carrega seu pandeiro com um massa instalado. “Ele chegou lá em casa ainda com o protótipo, um puxador de gaveta”, se recorda a multi-instrumentista Ganga, do grupo Côco Lunar. “Na hora fiquei curiosa, peguei pra testar, quando vi falei logo ‘pô, que massa!’”. Hoje, ela toca junto com Caburé e nas apresentações que faz com outros grupos fora do estado sempre mostra a novidade.
CUSTO – Como existem poucas fundições no Recife capazes de fazer o molde de ferro do massa, o preço do suporte ainda é alto. “Eu acho ele muito caro”, concorda Caburé. No Recife, o massa está sendo vendido nas lojas Gramophone, CI Eletrônica, Oficina da Música e Musitecnica. Chega para o consumidor ao preço final de R$ 48. Quase o mesmo preço de um pandeiro artesanal. Felipe já tem a solução para isso: um molde de plástico mais resistente. Quando fizer isso, o preço cai para R$ 15. A única coisa que o impede de colocar essa solução em prática é o custo do molde, que sai, em média, por R$ 60 mil.
Publicado originalmente em 22.12.05
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