A música eletrônica se cansa num ritmo impressionante. Só não é mais impressionante que o ritmo, ainda mais rápido, que ela se renova. Características de trabalhos que, na pista, tem uma vída útil bem curta. Esse mês, as lojas receberam representantes desses dois extremos. O primeiro, o cansado, é o remix do remix feito pelo Mamelo Sound System, parte do coletivo Instituto. O segundo, o renovado, é o “Everything Ecstatic”, disco de número quatro na carreira solo do guitarrista Kierram Hebden, que prefere ser apresentado como Four Tet.
O disco legal, o de Hebden, tem uma sensação de “big band” de jazz nas músicas que saem direto de um laptop. As colagens, envolvidas por remixes e samples, somam numa experiência dançante, divertida e com uma textura bem organica. É boa música eletrônica, que não se vende pela batida, mas sim pelo conjunto, como se os acordes e notas funcionassem como timbres. Você escuta, volta a música e consegue encontrar sempre novos detalhes.
Algumas músicas, sozinhas, já rendem uma boa festa. Outras, no todo do material, acabam estregando um pouco o disco. São lentas demais, reflexivas demais e deixam pesado um um som que já tem muitas referências. Acaba deixando o CD irregular demais. Ainda mais considerando que “Everything Ecstatic” tem apenas 10 faixas. Tirando essas mais tercinadas, faixas como “Sleep, eat food, have visions” e “and then paterns” são viagem pura.
Já a experiência do Mamelo… é uma coleção de excessos. A começar pela proposta de remixar um disco que já tinha samplers próprios. “Mega-Montagem Urbália”, remix assinado por Tejo, surpreende. Dá a impressão que o restante da faixas vão ser mesmo um bom negócio para o ouvinte. Mas para quem chega com a proposta de fazer uma compilação de mixes, “Operação: parcel ou remixália”, como é chamado o disco, tem muito mais hip hop que o esperado.
O contexto do disco é complicado. Aa “remixália” é também uma homenagem as referências sonoras da cidade de São Paulo. Mas um lugar de tantos ritmos merecia batidas diferentes. Mas, uma verdade a considerar é que, talvez com apenas o hip hop, o disco consiga comunicar para mais pessoas.Afinal, as ditas “músicas paulistas” sempre são alvo de xenofobia fácil.
Bom mesmo, é juntar esses dois discos. Selecionar faixas é fácil, mesmo numa audição de 30 segundos de cada. Você anota as mais interessantes, vasculha a Internet e compila sua própria “festa-em-cd”. Afinal, trabalhos com distribuição independente sempre permitem – e agradecem – poder fazer parte desse contexto livre.
Four Tet – Everything Ecstatic
Gravadora: Slag Records Preço: R$ 31
Para comprar: Submarino